domingo, 27 de julho de 2014

SESMARIAS DA PARAÍBA - RIACHO SANTA ROSA, JUAZEIRO E SERRA DOS BRANDÕES

SESMARIA - CURIMATAÚ
 RIACHO SANTA ROSA

"Governo de Pedro Monteiro de Macedo.
Felippe Ferreira Villar, Homem casado e morador nesta capitania, tendo descoberto umas terras de crear gados no olho d'agua chamado da Penha no sertão do Curimataú que desagoa no riacho Santa Rosa com trabalho e dispendio de sua fazenda e porque ditas terras estão devolutas e o suplicante necessita dela para  situar seos gados, pedi a mercê de tres legoas de comprimento e um de largura, pegando onde o riacho do olho d'agua faz barra no riacho Santa Rosa, correndo para parte do poente.
Faz-se a concessão requerida aos 12 de julho de 1734."


 RIACHO JUAZEIRO
" Governo de Francisco Pedro Mendonça Gurjão
Thomaz de Araújo Pereira, não tendo commodo para crear seus gados, descobrio à custa de seo trabalho um riacho chamado juaseiro que nasce por detraz da Serra Rajada, que desagoa no rio da Cauhã e faz barra na ponta da varzea do Pico, em cujo riacho e suas bandas tem terras devolutas e nunca cultivadas, terrenos em que pede tres legoas de comprimento e uma de largura, pegando das testadas do sargento-mor Simião de Goes pelo rio acima, ficando o dito rio em meio de dita largura. 
Faz-se a concessão na forma requeira aos 25 de maio de 1634."


SERRA DO CUITÉ - RIO UCÁ
"Governo de Pedro Monteiro de Macedo.
O tenente Antonio Gomes de Macedo, morador no lugar das - Bananeiras da freguezia de Mamanguape que descobrio um olho d'agua, chamado dos Brandões entre a serra do Cuité  e o rio Ucá, e como não tem terras suficientes par crear seos gados, pedia a mercê de três legoas de comprimento e uma de largura, pegando da parte do poente para a parte do nascente, fazendo peão no dito olho d'agua, chamado dos Brandões com todos os seos logradoros.
Fez-se a concessão em 18 de novembro de 1734". 

*** Trata-se da Serra dos Brandões que atualmente faz parte de Picuí -PB. Este Antonio Gomes de Macedo é o mesmo proprietário de terras em Bananeiras citado em outros registros (vide postagens sobre Aldeia de Santo Antonio da Boa Vista / Solânea). 


imagem Hemeroteca Digital - Gazeta do Sertão 9/5/1890

sábado, 26 de julho de 2014

TAPUIAS - COSTUMES E HÁBITOS

CULTURA TAPUIA
É precário e limitado o conhecimento que temos sobre a cultura dos Tapuias. A bem da verdade, muito pouco sabemos sobres os indígenas que habitavam o território brasileiro antes da chegada dos portugueses.
No Brasil, a presença humana está documentada no período entre 11 e 12 mil anos atrás, ou seja, tempo demais para os poucos conhecimentos que temos sobre esses agrupamentos humanos.
Recentemente, a população indígena estimada em 1500 era de mais de três milhões de pessoas, povoando o litoral e interior.
Pouco se comparada ao número de habitantes que nosso país tem atualmente - cerca de 200 milhões - mas, numerosa, se comparada à população de Portugal, naquele mesmo ano, que não chegava a 1,2 milhões.
Ao contrário dos potiguaras, que eram tupis e habitavam o litoral, os tapuias viviam no interior.
Alguns tapuias que habitavam o interior do Rio Grande do Norte e Paraíba eram chamados "tarairu", termo pejorativo que significava espinha de traíra (peixe).
Assim como nem todas as tribos do litoral eram tupis, nem todas as do interior eram tapuias, pois no decorrer dos séculos, devido ao processo migratório, uma tribo podia se deslocar mais do que outra, atingindo domínios antes ocupados por outra tribo.
Essa sucessão de tribos no mesmo lugar, mas em épocas distintas, ocorreu com certa frequência o que dificulta ainda mais o estudo de certas nações indígenas.
Além disso não podemos esquecer que ao longo do tempo ocorreu uma miscigenação que confunde ainda mais qualquer pesquisador.
Até hoje desconhecemos os nomes de muitas nações. Das que temos notícias, existe uma verdadeira confusão, já que os nomes que sobreviveram aos dias atuais podem ser apenas alcunhas que, de forma pejorativa, lhe impunham vizinhos ou inimigos.
Entretanto, apesar desses fatos, reconhecemos uma semelhança de costumes e características que nos dá indício de que os indígenas tinham uma mesma origem, embora tenham ao longo do tempo ramificações distintas.
São tapuias os Caicós, Curemas, Paiacus, Janduís, Pegas, Sucurus e Canindés.
Tinham como características físicas o rosto largo, cabelos lisos e pretos. De estatura superior aos tupis, pés e mãos pequenos.
Os homens faziam buracos nas orelhas e no lábio inferior onde inseriam ossos ou madeira.
Cortavam o cabelo em forma de cuia, e os homens usavam penas amarradas com embira na cabeça.
Pintavam o corpo com tinta de urucum, jenipapo ou carvão.
Eram pescadores, mas não usavam o anzol  mas o arco e flecha e armadilhas feitas com cestaria.
Os arcos eram grandes, de madeira flexível, sendo que era utilizado o "pau d'arco", nome popular de várias árvores de ipê (roxo, amarelo e branco). Também usavam lanças.
Suas habitações eram precárias, feitas de paus amarrados com embira (folha da palmeira) e cobertas de folhas.
Mantinham sempre, dia e noite, uma fogueira acessa, pois como faziam fogo por fricção entre duas madeiras era mais fácil manter alguma brasa acessa do que criar uma.
A caça, ao lado da pescaria, era sua principal fonte de proteína. Por tal motivo eram hábeis caçadores.
Só os homens pescavam e caçavam, todo o resto do serviço era feito pelas mulheres, que se ocupavam de coletar frutos silvestres, raízes, ovos de pássaros. Além disso, cabia as mulheres os trabalhos de cestaria, do preparo das comidas, dos cuidados com as crianças e armazenamento da água.
Além do arco e flecha, faziam machados de pedras e machadinhas que podiam ser feitas de qualquer material cortante.
As cuias eram obtidas principalmente das cabaças, mas também da pouca cerâmica que fabricavam com barro cozido, que abandonavam quando migravam para outro sítio, já que o peso obrigava a isto.
Eram hábeis na confecção de cestaria. Usavam fibras de caroá, que tingiam com o umbu, jenipapo e outros.
Gostavam de festas, de música e de dança. Faziam bebidas com a fermentação de frutos.
O sal era desconhecido.
Em relação aos mortos, há grande diferença entre as tribos. Umas comiam os corpos de seus mortos. Outras os enterravam em grandes vasos de barro.
Homens e mulheres usavam pulseiras e tornozeleiras
As uniões eram seladas cedo, mulheres após os 11 anos de idade, e homens após os 13.
Não tinham prole grande, e muitas crianças morriam cedo. Mulheres morriam de parto com frequência o que em parte justificava a poligamia dos homens.
Eram guerreiros e, apesar do grande desconhecimento que temos, a grande maioria dos nordestinos descende deles, e conservam o jeito simples, alegre e divertido daquele povo. 

sábado, 12 de julho de 2014

ALDEIA - SOLÂNEA/PB

ALDEIA
Em 1718, os índios sucurus solicitaram e obtiveram a concessão de terras, onde já habitavam há algum tempo, na "Serra da Boa Vista", no lugar do "olho d'água", para que "pudessem viver e plantar suas lavouras".
A população da aldeia naquela época era de aproximadamente 94 indivíduos, a maioria pertencente ao mesmo núcleo familiar composto de crianças e adolescentes.
Segundo consta o local onde se fixaram os sucurus, que vieram para a Paraíba justamente para combater os tapuias, cujos domínios se estendiam entre os rios Curimataú e o Araçagi, era muito fértil e abundante em água de boa qualidade - útil ao ser humano e para a criação de gados.
Uma vez concedidas as terras a aldeia rapidamente prosperou. E, como em todos os aldeamentos indígenas da época a presença de missionários se fez presente, embora não sendo certo o ano em que ali chegaram.
A única certeza que se tem, advinda de fontes históricas, é que alguns religiosos de Santa Tereza marcaram presença durante algum tempo e,  são deles a iniciativa da construção do primeiro oratório, por volta de 1730, cujo orago era Santo Antonio. Passando o lugar a ser denominado "Aldeia de Santo Antonio da Boa Vista".
Conforme comprova o registro abaixo, que é muito interessante pois comprova a presença na aldeia também de tapuias. 
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"Aos nove dias do mez de março de mil sete sentos trinta e douz annos na Capela da Boavista, administração dos sucurus e canindés, em licença minha batizou sem os santos oléos o Pe Manoel Jorge da Costa a Firmiano, filho natural de Antonia, tapuya, escrava do tenente Antonio Gomes de Macedo".
Com a fixação de uma grande cruz de madeira na área central da aldeia e algumas adaptações passaram a impor normas e costumes europeus na comunidade, tais como a proibição da nudez, construção de palhoças separadas para abrigar casais e sua prole, além da catequese.
A obrigatoriedade do batismo com nomes portugueses foi uma das práticas utilizadas que visava acabar com a identidade cultural dos membros da aldeia. Por outro lado, os religiosos proibiam também que os índios e seus descendentes fossem chamados de "caboclo", termo que consideravam pejorativo e ofensivo. Muito embora se saiba que foram assim denominados por muito tempo. Sendo que passou a ser apelido da família e até sobrenome.
Meu avô paterno LUIZ SEVERIANO DA COSTA, cuja pequena biografia tratei em outra postagem, era chamado por LUIZ CABOCLO, pois era da  "família CABOCLO". Muito embora até hoje ainda não consegui determinar com precisão sua ascendência indígena.   
O lugar onde foi fixada a cruz virou referência, sendo certo que até meados do século XIX podemos encontrar registros paroquiais onde o local era designado de "CRUZ DA ALDEIA".
Em relação ao "olho d'água" citado na concessão de terras, que se tratava de uma fonte ou nascente, ou seja, a água que surge por afloramento do lençol freático, podemos dizer que era incomum, já que seu volume era grande, bem diferente de outras nascentes do brejo paraibano.
Da mesma forma que a cruz virou referência, o olho d'água também, sendo certo que próximo a ele muitos passaram a residir, passando a ser denominado "OLHO D'ÁGUA DA ALDEIA".
Cabe ressaltar, que o município de SOLÂNEA\PB, além da ALDEIA, tem atualmente em sua zona rural, algumas localidades cujos nomes datam de pelo menos dois séculos, tais como: LAGES, BOM SUCESSO, LAGOA DE TANQUES, MATINHAS, JACARÉ, SALGADO e OLHO D'ÁGUA SECO.   
Outras como SANTA TEREZA e FAZENDA VELHA são reminiscências da antiga presença no local dos religiosos missionários de Santa Tereza na primeira metade do século XVIII. Desnecessário dizer que no período a quantidade de crianças batizadas com os prenomes ANTONIO e TEREZA também chama a atenção.  
O certo é que o OLHO D'ÁGUA DA ALDEIA era de grande importância naqueles tempos. Tanto é que não tardou que começaram os conflitos entre os índios aldeados e os fazendeiros fixados em terras ao redor. A água era vital e, em consequência, bem precioso.
Com o Diretório dos índios (a partir de 1758) e a política pombalina começam a surgir mudanças, entre as quais as transferências para outras aldeias. Daí ser uma consequência natural, que fosse também afetada a ALDEIA DE SANTO ANTONIO DA BOA VISTA.
Muitos índios já estavam completamente integrados na denominada sociedade local através de casamentos com o colonizador "português" e haviam pedido totalmente sua identidade cultural. Os poucos que restavam na aldeia que resistiram foram transferidos  e suas terras quase que imediatamente ocupadas. 
Até 1786, encontrei registros de batizados na capela da Boa Vista, como o que segue abaixo do batismo de DAMIÃO, em 24/04/1786, filho de Jozé Barreiro e sua mulher Angela Maria.  
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OU de IGNÊS, batizada em 29/05/1846, na Capela de Santo Antonio (registrada no livro de batismo de Bananeiras)
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É importante ressaltar que, bem próximo à Aldeia, um agrupamento humano surgiu, tornando-se próspero, já que era ponto de passagem do caminho que ligava o litoral ao sertão,  a "CHÃ DO MORENO". Aliás, é bom destacar que o referido caminho remontava a época pré-cabralina, muito utilizado pelos índios de várias etnias.  
Chã, Chan ou Xam era como chamavam antigamente uma terra plana na serra, razão pela qual a localidade tinha uma bela vista da aldeia, embrião do que é hoje a cidade de SOLÂNEA.             
Chã do Moreno prosperou, por outro lado a antiga ALDEIA, apesar de sua opulência, quase que completamente despareceu dos registro históricos. E, o pior crime que poderia se cometer ocorreu ao longo dos anos, simplesmente nenhum estudo sério foi feito no sentido de resgatar  sua importância histórica. Nenhuma investigação arqueológica. Nenhum rastreamento. Nenhum interesse... Nada. Uma lástima. E, assim tem sido em relação à cultura indígena, fadada ao esquecimento e degredo.
Felizmente, sobre o antigo olho d'água algumas pessoas deixaram registros, tais como Tancredo de Carvalho, que em Memórias de um Brejeiro (1975), narra a alegria que tinha na sua infância (por volta de 1909) de "descer" de Moreno para tomar banho na "fonte da Aldeia".