Por mais que sejam feitas
pesquisas sobre a história indígena no nosso país ainda persistem muitas
lacunas. O conhecimento que temos é muito pouco, já que a dificuldade em
resgatar o passado é grande.
Até hoje não sabemos com
exatidão qual era a população do Brasil na época do descobrimento, quantas
etnias eram, quantas línguas falavam e quais suas origens. Por isso, não
podemos dizer quantas dessas tribos eram tapuias e tampouco os lugares que
habitavam nos “sertões”.
Os tapuias eram nômades e
suas palhoças não passavam de abrigos cobertos de palha, o que dificulta muito
as pesquisas sobre eles.
É preciso lembrar que no
Brasil as diversas etnias indígenas tinham culturas diferentes. Algumas, por
exemplo, não dormiam em redes e sim no chão, e, não cultivavam lavouras, daí
ser difícil estabelecer um padrão indígena com tantas variáveis. Todavia, mesmo
com tal dificuldade é fácil constatar que todos os indígenas viviam da caça e
da pesca e eram coletores. Todos utilizavam a pintura corporal ao invés de
roupas.
As características físicas
dos diversos grupos se diferenciavam. O tom da cor da pele, o formato dos lábios
e do nariz, a altura e outras eram diferentes.
Os sucurus e os canindés tinham
muita coisa em comum: dormiam em redes, faziam suas roças, usavam arcos e
flechas, não comiam a carne de caça crua. Ademais, ambos eram treinados para serem
guerreiros, fato que contribuiu muito para que fossem recrutados para servir à
coroa portuguesa.
É sempre bom lembrar que os
canindés têm esse nome justamente em homenagem ao rei Canindé, que era o principal
da tribo janduí que liderou uma resistência bem grande a colonização portuguesa
que findou com um tratado de paz em 1692. O rei Canindé foi batizado como João
Tomas. Era filho de Jandui. Dai seus seguidores e descendentes ficarem
conhecidos como canindés, da mesma forma que os seguidores do seu pai ficaram
conhecidos como Janduis.
Foi esse tratado que
estabeleceu que os canindés colocassem à disposição do exército português cinco
mil guerreiros indígenas para combater qualquer invasor estrangeiro no Brasil
em caso de guerra.
Nesse mesmo tratado ficou
estabelecido que os canindés fossem livres, desde que fornecessem parte de seus
indivíduos para trabalharem nas fazendas de gado sem qualquer remuneração e,
com o compromisso que não as atacassem.
É interessante esse tipo de “trabalho”
que mais uma vez possuía características de trabalho escravo, mas que foi
fundamental para o povoamento nordestino, já que muitas índias foram trabalhar nestas
fazendas de gado e se tornaram as matriarcas de muitas famílias. Essa
história de “pegada a laço” (sic) não faz sentido quando sabemos que os próprios
índios iam trabalhar nas fazendas de uma forma quase que voluntária após o
acordo.
Após esse tratado de paz, os
canindés, que viviam livres ao longo dos grandes rios, ficaram segregados em
algumas aldeias, sempre disponíveis para trabalhar nas lavouras dos fazendeiros
e, eventualmente, como soldados.
Uma dessas aldeias foi a de
Santo Antônio da Boa Vista, que já tratei em outra postagem do blog, na qual
viviam também os Sucurús (Xucurús).
Algumas pesquisas apontam
que tanto os canindés e sucurús falavam, originalmente, o tarairú, que seria
afiliada ao tronco macro-gê, os quais estariam agrupados em 22 grandes tribos
na época. Outros dizem que os sucurús eram cariris, sendo que me filio a primeira
corrente por conta da língua que falavam e os laços de amizade que os uniam.
Não se sabe ao certo quando
os canindés e os sucurus foram reunidos na Aldeia de Santo Antônio da Boa Vista,
sendo que tudo leva a acreditar que os sucurus já estavam nas redondezas desde
antes da Guerra dos Bárbaros. E, depois, de 1698, passaram a defender as
fronteiras para a coroa portuguesa. .
Nesse aspecto, é bom lembrar que os sucurús conseguiram sesmaria em 1718 no
mesmo lugar em que estavam aldeados, sendo que posteriormente se juntaram a
eles os canindés.
Mesmo aldeados e com a
proteção da Igreja Católica, representada pelos missionários, os índios sempre
eram vítimas de assassinatos.
Em 1744, o Conselho
Português escreveu uma carta ao rei sobre a devassa que se instaurou na Paraíba
pelos ferimentos causados aos índios do distrito de Bananeiras (que pertencia
na época a Mamanguape). Essa devassa se referia a oito mortes e três feridos,
fato que teria acontecido em 14/11/1739 na aldeia de índios que existia naquele
distrito.
O conselho sugeriu ao rei
que mandasse o ouvidor geral da capitania que fosse ao “sítio e aldeia das Bananeiras” tirar a segunda devassa das mortes,
mandando prender os culpados para que os crimes não ficassem impunes por tantas
mortes dos “miseráveis” índios entre
“aquelas gentes que parecem nenhum escrúpulo
fazem de os matar”.
Enfim, embora a história tenha que quase apagado os rastros da aldeia de
Santo Antônio da Boa Vista, não se pode negar a sua importância com a criação
de muitos agrupamentos humanos nas suas redondezas, que foram embriões das
futuras cidades de Bananeiras e Solânea (antiga Moreno).
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